- Opinião -
“Gastei” horas preciosas do meu fim de semana assistindo e escrevendo esse texto de opinião sobre este seriado.
Tudo bem, ele estava na minha lista. Tudo bem, ele estava nos “top tive” da Netflix desde o lançamento. Tudo bem, ele é baseado numa história real… e eu gosto de histórias reais… mas não tanto dessa, especificamente. Mas resolvi escrever sobre e vou contar porquê.
Em tempos que o virtual tomou conta do mundo real em todos os sentidos, esse seriado é uma importante oportunidade de reflexão.
Às vezes o desânimo com a rede toma conta da gente e quando casos como o de Belle Gibson acontecem, os sinais da doença que está tomando conta do mundo se intensificam. Fica difícil distinguir a verdade da mentira, a farsa da originalidade, a doença da saúde, seja ela física ou mental. Fica difícil distinguir o real do virtual. E isso pode ser muito perigoso.
Histórias como a da Belle Gibson e também como a da Milla Blake, que são inspiradas na vida real e que aconteceram meio que ao mesmo tempo, dadas as devidas diferenças entre as duas histórias, só reforçam o poder da influência num mundo cada vez mais digital.
A história da Lucy, que foi acrescentada na série como personagem fictícia para ilustrar as muitas prováveis vítimas das mentiras de Belle Gibson sobre o câncer e o pequeno Hunter, que foi uma das pessoas que receberiam doações para sua cirurgia de câncer cerebral, através de Belle e que nunca recebeu, sendo ele mais um caso real no contexto dessa trama triste.
Os casos citados na série, são exemplos do que uma pessoa pode fazer usando seu poder de influenciar. Atitudes como as praticadas por Belle Gibson são monstruosas.
Esses casos mexem profundamente comigo. Por muitas questões pessoais. Por ter passado por um diagnóstico de câncer, por ter perdido pessoas próximas e queridas para a doença, por saber o tamanho real da dor no corpo e na alma que ela provoca.
É doloroso demais saber que alguém é capaz de tirar vantagem e se estabelecer financeiramente com base numa mentira que envolve um câncer… especialmente um câncer no cérebro e terminal, que tá longe de ser simples e fácil de curar.
Deve ser considerado um grau muito avançado de frieza e loucura para influenciar pessoas, doentes reais, para o consumo de alimentos e adoção de uma dieta sem comprovação, que promete ser a responsável pela cura de um câncer, ainda que à dieta seja inteira de alimentos saudáveis.
A denominação “influencer” utilizada para aqueles que direta ou indiretamente influenciam pessoas a partir do seu modo de viver ou das suas ações diárias no trabalho, na família, na sociedade, é uma denominação que deve ser usada com cautela e muita sabedoria. Não se trata apenas de números, engajamento, likes.
O poder de multiplicação de uma mensagem no mundo completamente digital em que vivemos, é algo que não podemos medir. Ultrapassa fronteiras, ultrapassa limites e principalmente desconhece filtros entre o que é certo ou errado, verdade ou mentira.
Do outro lado da tela há centenas, milhares, milhões de pessoas que são impactados direta ou indiretamente por uma única mensagem.
Portanto, o que é dito na rede, pode ser muito perigoso e causar danos irreversíveis para muita gente.
A história de Belle Gibson é tão mortalmente perigosa que custo a crer que apesar de condenada, essa pessoa sequer pagou a multa designada.
E me dói mais ainda ver que há tantas Belles espalhadas por aí, usando o mesmo método, a mesma charlatanice, o mesmo discurso de misericórdia, cura e salvação. Aqui no Brasil inclusive…
E é exatamente por isso que, apesar do final ridículo e de ser uma história que não merece palco, eu recomendo que todos assistam.
Pois quem tem uma sentença de morte assinada, é capaz de se agarrar a qualquer centelha de esperança, qualquer fagulha de luz, qualquer mentira anunciada.
Quem tem um diagnóstico de câncer precisa de tratamento, precisa de cuidados personalizadas. Cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa e até quando não há muito o que fazer há cuidados que podem promover alívio e conforto tanto para quem sofre da doença, como para quem está perto de quem convalesce dela. Não há cura milagrosa, é preciso saber que há pessoas capazes de usar uma doença tão cruel como o câncer para se dar bem. É preciso que estejamos sempre atentos e vigilantes.
Dizer que foi curado de um câncer ou de qualquer outra condição contra a qual milhares de outras pessoas lidam diariamente, precisa ser feito com muita responsabilidade. Precisa de muito embasamento científico e comprovação de eficácia. Precisa haver provas. Todo o resto é falácia.
É fundamental que nós, que somos a audiência das redes sociais, estejamos cada vez mais atentos e cautelosos aos sinais de golpistas. Desconfiar, infelizmente, se tornou a única arma contra o caos que tomou conta do mundo.
Tudo precisa ser questionado, antes de aplicado. Histórias que causam comoção pública, relatos emocionados, pedidos de apoio financeiro, campanhas… tudo pode ser um golpe, tudo pode ter uma má intenção por trás ou simplesmente pode ser uma pessoa querendo se dar bem à custa da comoção alheia.
É doloroso chegar a esta conclusão sobre a rede, pois eu amo compartilhar minhas experiências na maternidade e na vida, neste ambiente virtual que sem dúvida cresceu muito no pós pandemia. Ter que ligar o alerta por não poder confiar na intenção das demais pessoas que estão ali dividindo um espaço que poderia ser tão mais produtivo e positivo para todos é o mais triste dessa história.
E finalmente sobre o título desta série, ao meu ver foi apenas uma ilustração por causa da relação com a alimentação saudável e como o vinagre de maçã se tornou o queridinho de muitas dietas. Mas também pela ligação estreita entre a acidez da bebida e a acidez dessa história.
Dessa vez é só opinião, sem spoilers!
Você já assistiu? O que achou?
Adriana C. A. Figueiredo
Autora de livros incríveis e mãe de Miguel e Rafael
Eu escrevo e amo romances, mas não se engane, a mamãe está em cada palavra e nas causas que eu considero importantes para fazer minha parte e tornar o mundo, um lugar melhor pra viver.
Vem fazer parte disso comigo!
Vale a pena assistir, apesar de…