- opinião -
O quê?
Eu sou muita coisa, então eu posso sim, fazer minhas ponderações do Oscar.
Estou muito feliz, afinal, pela primeira vez, o Brasil com sua arte, com o seu cinema, com a sua literatura, venceu!
Desbancando inclusive, uma produção de grande campanha e recursos como Emilia Pérez.
Foi lindo gritar “vencemos” e celebrar nossa arte em pleno carnaval. Ainda estamos festejando. Foi lindo ver o reconhecimento mundial do nosso país tão bem representado pelo filme “Ainda Estou Aqui”
Mas, sem dúvida alguma, merecíamos mais. Merecíamos muito mais.
Eu até considerava perder o prêmio principal da noite para por exemplo “A Substância”, cuja história trata de um problema tão atual e necessário que dispensa situação.
Eu até considerava a nossa ídola Fernanda Torres, não trazer a estatueta para o Brasil, sabendo que para nós a estatueta é dela, para por exemplo e neste caso exclusivamente, Demi Moore, que sem sombra de dúvidas teve seu papel mais marcante neste filme e por sua história na Oscar com uma carreira impecável e pouco reconhecida.
Mas estamos falando de um prêmio concedido pelos Estados Unidos. E isso diz muito sobre o resultado.
Estamos falando de um país que não aceita a cultura externa a deles vencer em seu território.
Estamos falando de um país que quer a hegemonia mundial dos seus feitos e isso diz muito também sobre o resultado.
Eles não dariam o Oscar de melhor filme do ano para “Ainda Estou Aqui” e o Oscar de melhor atriz de drama para Fernanda Torres, por incontáveis motivos, a começar por sermos brasileiros, da América do Sul e por falarmos português.
Não dariam o prêmio principal pra gente, porque sempre tiveram a certeza de que nós não temos capacidade intelectual de navegar numa campanha internacional com tamanha desenvoltura como fizeram, Fernanda, Seton e Walter, por exemplo.
Não dariam o prêmio principal pra gente, porque sempre consideraram o Brasil como uma cultura inferior a deles, quando na verdade, não só em relação aos Estados Unidos, temos potencialidades que nos colocam anos luz a frente de muitas culturas, inclusive as ancestrais europeias, por exemplo.
Era a chance de reconhecerem que há maravilhas além das suas fronteiras, era a chance de fazerem história na The Academy, era a chance de mostrarem ao mundo que a premiação é muito maior que aparenta ser e que vai além da indústria americana de fazer cinema.
Mas optaram por reconhecer e referenciar o mais do mesmo e a prata da casa.
Não digo que Mikey Madison não merecia a premiação, mas atriz americana por atriz americana, Demi Moore estava pronta para ser coroada. Era o momento dela.
Agora sobre “Anora”, esse foi um grande erro… a prova de que estadunidenses são pirracentos e bairristas, a prova que essa premiação tem lá suas próprias convicções e que não aceita o que vem de fora.
Desculpe-me quem curtiu este filme. Eu, por exemplo, como autora independente, adoraria ver um filme independente, desbancar a nossa produção histórica em “Ainda Estou Aqui”, mas não “Anora”… um filme, na minha humilde opinião, ínfimo, perto de produções tão incríveis como “Os Brutalistas” e “Conclave” por exemplo. Um filme cuja temática e a história foi tão pouco cativante que eu não consegui ver até o final.
Mas quem sou eu na fila do pão para falar de cinema? Eu não sou nada!
Por isso minha gente, esse é apenas um texto de opinião e não tem relevância alguma para o resultado do Oscar de ontem à noite, porém, eu também posso expressar a minha indignação por aqui!
De qualquer maneira! Nós somos os grandes vencedores da noite. Os grandes vencedores da 97th edição do Oscar nos Estados Unidos. Porque nós fizemos uma campanha limpa, coesa, sóbria, tal qual foi a nossa história e a relevância dela para o momento mundial de ascensão do autoritarismo, numa escala que precisa ser freada.
Nosso filme, assim como a interpretação da história real de uma família vítima do regime ditatorial instaurado no Brasil e no mundo, serão apreciados por mais milhões e milhões de pessoas, porque sim, reconhecer os erros do passado é fundamental para nunca mais sermos capazes de repeti-los.
E por isso, só por isso, NOSSA ARTE VENCEU!
Viva o cinema brasileiro, viva a democracia, viva os artistas brasileiros, viva o teatro, viva a cultura e viva sobretudo a nossa literatura!
O nosso filme conta a nossa história e fez história na linha do tempo do cinema mundial. Isso não tem preço e no fim das contas temos a nossa estatueta!
A vida presta e nós estamos sorrindo!
Adriana C. A. Figueiredo
Autora de livros incríveis e mãe de Miguel e Rafael
Eu escrevo e amo romances, mas não se engane, a mamãe está em cada palavra e nas causas que eu considero importantes para fazer minha parte e tornar o mundo, um lugar melhor pra viver.
Vem fazer parte disso comigo!