Na maternidade, às vezes, muitas vezes, nos sentimos impotentes.
Engana-se quem pensa que a impotência reside tão e somente, quando enfrentamos uma doença ou situação sem perspectivas, embora essas sejam sem dúvida alguma, o patamar mais alto de impotência materna diante das impossibilidades.
Mas acontece que as coisinhas ditas miúdas do dia a dia, as sutilezas, a rotina, também são capazes de nos fazer perder o controle e perceber que nunca saberemos se estamos ou não no caminho certo.
É porque ser mãe, de infinitas formas, pressupõe impotência diante da vida.
Ser mãe nos faz olhar os próprios defeitos através dos filhos e também enxergar nossas qualidades por meio deles.
Ser mãe nos faz escolher dentre todas as opções possíveis aquela que nos pareça a mais acertada e mesmo assim cometer deslizes por causa dessa escolha.
Ser mãe nos faz voltar atrás de promessas para a vida inteira num piscar de olhos e ainda assim prometer de novo, uma, duas, três, incontáveis vezes.
Ser mãe nos faz chorar em silêncio quando uma desilusão independente da nossa vontade acomete nossos filhos e precisamos ser fortes para acolher o choro deles, sem saber o que fazer com o nosso.
Ser mãe nos faz repensar a vida na ânsia por abrir caminhos melhores que os nossos, recolhendo pedras para facilitar os passos deles, em detrimento dos nossos.
Ser mãe nos faz querer mais um dia, todos os dias ao lado de quem tem de nós, a maior doação.
Mas ser mãe também é sobre agir por impulso, tomadas pela raiva, pela rotina atropelada do trabalho, pelos problemas que se apropriam dos nossos sonhos e roubaram nossa serenidade.
É ter que corrigir mal comportamento na certeza que vai se arrepender, e vai pedir perdão, e vai remoer por horas a fio, sabendo que estava certa, mas sem o acalento possível da autopreservação.
É de muitas maneiras perder o sono até quando o sono quer te deter.
Ser mãe é perder o fôlego, sentir o coração parar, é dar a volta ao mundo sem sair do lugar. É se desdobrar em trinta, não ter tempo nem pra se olhar, é dar o corpo e a alma sem sequer pestanejar.
Ser mãe é compreender o incompreensível, procurar até encontrar. É saber de tudo um pouquinho e amar até onde não dá pra contar.
Ser mãe é perder o controle, e depois a culpa carregar. É sonhar mesmo de olhos abertos e aos filhos todo amor dedicar.
É na maternidade que eu escolhi morar!